A minha experiência com o Martim
Este é um assunto muito controverso. Já vi mães a atacarem outras mães em fóruns por não concordarem que não amamentassem. Gerou-se tanta polémica à volta da amamentação vs aleitamento, que é inconcebível para muitos que uma mãe não dê de mamar ao seu bebé.
Eu dei de mamar e dei o biberão. E continuo a fazê-lo e isso não faz de mim uma má mãe.
Nunca me passou pela cabeça não dar de mamar. Prestei atenção à enfermeira no curso de preparação para o parto. Tinha a certeza que ia correr tudo bem. Tinha a certeza de que ter mamilos rasos não seria um problema. Tinha a certeza de que dar de mamar sempre que o bebé quisesse (sem horários estabelecidos), apesar de cansativo, seria o mais correto. Tinha a certeza que não iria dar a chupeta ao bebé, pois a única chupeta que ele iria precisar era a minha mama.
O que eu não tinha a certeza era do que viria a seguir.
Quando o Martim nasceu
Quando o Martim nasceu, ele foi colocado ao meu peito e uma enfermeira estagiária ajudou-me a dar a mama pela primeira vez. Não foi fácil, porque acho que ela não tinha muita experiência, tendo acabado por me espremer o mamilo para que saísse alguma coisa. Doeu, mas não me demoveu.
Continuei a dar a mama. O Martim emagreceu, como é habitual em todos os recém-nascidos, mas nada de preocupante, pois acabou por ter alta primeiro do que eu (tinha anemia).
Em casa dei sempre a mama, mas achava que o Martim não pegava bem na mama, e então fomos ao cantinho da amamentação falar com a enfermeira para ela me ajudar.
Dei de mamar em frente a ela, e ao que parece, o Martim pegava bem na mama, e estava com um bom peso.
Eu sei, receio de mãe de que o bebé não está a alimentar-se corretamente, pois não conseguímos ver a quantidade de leite que ele mama.
Fomos para casa.
As gretas começaram a aparecer. Começou a sair sangue. Tentei várias posições de amamentação, mas a verdade é que as dores não passavam. O Martim mamava de hora em hora, o que não dava tempo para cicatrizar os mamilos. Quando a hora de mamar se aproximava, eu chorava, antecipando as dores que iria sentir.
O pai disse chega e comprou uma bomba de tirar leite.
Comecei então a tirar leite, numa tentativa de cicatrizar mas rapidamente os mamilos.
O biberão não era estranho para o Martim, pois ele já mamava um biberão de leite de fórmula à noite, por recomendação da nossa enfermeira de família, para que eu pudesse descansar um pouco mais e recuperar de uma vez por todas da anemia.
Para além da bomba, tentei os mamilos de silicone da Medela, colocava Purelan 100 nos mamilos, passava água quente no peito antes de dar de mamar e no fim, colocava um saco de ervilhas congeladas nos seios para endureceram mais rapidamente. Mas o que resultou mesmo foi andar 24 horas sobre 24 horas com os protetores de mamilos da Medela.
Os mamilos cicatrizaram. Mas a verdade é que enquanto procurávamos uma solução, o tempo foi passando, e quando demos por ela, estava na altura do Martim começar a comer a sopa e depois a fruta e depois a papa, e da mamã ir trabalhar.
Organização Mundial de Saúde (OMS)
A Organização Mundial de Saúde diz que:
A amamentação é a maneira normal de fornecer aos bebês os nutrientes de que necessitam para um crescimento e desenvolvimento saudáveis. Praticamente todas as mães podem amamentar, desde que tenham informações precisas e o apoio de sua família, do sistema de saúde e da sociedade em geral.
A amamentação exclusiva é recomendada até os 6 meses de idade, com amamentação contínua e alimentos complementares apropriados até os dois anos de idade ou mais.
Quando estava grávida do Dinis, tive uma discussão com uma enfermeira por causa disto, pois ela achava (não por experiência própria) que a exclusividade era posssível e que o apoio da sociedade existia. Tentei explicar-lhe o meu caso com o Martim.
Quando fui trabalhar aos 5 meses, eu levava a bomba de tirar leite comigo. Nesta altura eu trabalhava como administrativa num centro de negócios e tinha ficado acordado que eu sairia duas horas mais cedo (as duas horas a que tinha direito para amamentar), em vez de entrar uma hora mais tarde, e sair uma hora mais cedo.
No entanto, eu entrava mais cedo, para poder preparar o centro e ter tempo para ir para uma sala tirar leite, antes do centro abrir. Era a única altura do dia para eu tirar o leite. Não conseguia fazê-lo na hora do almoço, a não ser que o fizesse na casa de banho. E felizmente tinha um frigorífico para o staff, onde colocava o leite. Mas a verdade é que muitas vezes acabava por me esquecer do leite no frigorífico.
Eu sempre tive leite, mas não o suficiente para congelar para que quando chegasse a altura de voltar ao trabalho, pudesse deixá-lo com a minha mãe (quem iria tomar conta do Martim). Por isso, foi mesmo necessário introduzir outros alimentos a partir dos 4 meses.
A minha experiência com o Dinis
Ao contrário do que me disseram que como eu já tinha passado por uma má experiência, o meu cérebro já estava formatado para que desta vez o mesmo acontecesse (adoro quando mulheres que nunca passaram por uma gravidez, opinem como se tivessem passado pelas mesmas experiências do que nós), eu acreditava piamente que a amamentação do Dinis iria ser fácil.Após a experiência mais ou menos positiva, com a amamentação do Martim, decidi que não iria passar pelo mesmo. Isto é, não ia voltar a passar pelo mesmo stress e dificuldades em dar de mamar, caso isso viesse a acontecer.
Não precisei de ajuda para dar de mamar quando o Dinis nasceu. Afinal, eu já tinha mamilos!
Dei de mamar sempre que ele pediu. Demorava um hora em cada mama, mas eu continuei a dar de mamar, apesar de começar a sentir alguma dor. Mas quando isso acontecia, eu chamava uma enfermeira, e ela ajudava a posicionar o Dinis corretamente, e lá continuava a mamar.
O Dinis foi emagrecendo e então achei que o correto seria dar um suplemento após cada mamada, sempre que necessário, e assim foi. Quando via que ele dormia mais na mama do que mamava, eu pedia à enfermeira um suplememento.
No dia da alta, e já em casa, o Dinis bolsou sangue. Mas o sangue não era dele. Era meu. Os meus mamilos já estavam gretados.
Sem pensar duas vezes, comecei a tirar leite com a bomba, mas como não era suficiente, completava com o leite de fórmula. E assim fomos alternando os leites.
Enquanto os mamilos não saravam, eu apenas dava o peito de manhã e à noite.
E foi assim durante quase 3 meses. No dia 28 de dezembro o Dinis recusou a mama. Tentei novamente e nada. Chorava cada vez mais.
O leite que eu tirava com a bomba já era pouco. Pecisava de 1 hora para conseguir tirar 30ml. Quanto menos o Dinis mamava, menos eu produzia.
Por isso, não insistimos mais.
O Dinis continua a beber leite de fórmula e já iniciou a sopa, a fruta e a papa.
Tenho perfeita consciência de que o leite materno contribui a longo prazo para uma vida saudável. E devido ao pouco tempo em que os meus filhos mamaram, terei de me esforçar mais para lhe proporcionar uma vida saudável, através da alimentação e da atividade física.
Para concluir
É física e mentalmente desgastante cuidar de um bebé recém-nascido. Muitas mães não estão emocionalmente preparadas para lidar com o stress de um bebé recém-nascido que precisa delas para comer até dez vezes por dia, e obrigar uma mãe a fazê-lo, só fará com que a mãe se ressinta com o bebé e deixe de aproveitar as muitas alegrias trazidas pelo seu nascimento.
Uma coisa que aprendi como mãe de duas crianças é relaxar e fazer o que funciona melhor para mim e para a minha família.
Mamã, se o leite de fórmula te ajudar a sentires-te menos stressada, então serás uma mãe melhor por causa disso. O mesmo se aplica a trabalhar ou ficar em casa ou deixar o bebé dormir na nossa cama. Uma mãe feliz vai criar filhos felizes.
Vantagens e Desvantagens da Amamentação
A decisão de amamentar ou não deve ser tomada pela mãe com conhecimento das vantagens e desvantagens da amamentação, e não sobre pressão da família e sociedade em geral.
É preciso ter em conta de que o peito só irá poduzir leite se permitirmos que o bebé mame nele. O peito deixará de produzir leite quando a amamentação parar. Por esse motivo é mais fácil começar a amamentar e depois passar para o leite de fórmula, do que ao contrário.
Vantagens
- O leite materno é o alimento natural e equilibrado mais completo para o bebé, e o único alimento que o bebé precisa durante os primeiros 6 meses de vida.
- O leite materno contém anticorpos que protegem o bebé contra doenças. Os bebés amamentados tendem a ter menos alergias do que os bebé alimentados com leite de fórmula.
- O leite materno é menos caro e mais fácil de digerir do que o leite de fórmula.
- A amamentação pode ser relaxante e conveniente. Não há biberões para lavar, esterilizar ou preparar.
- A amamentação pode ajudar o útero a voltar ao tamanho normal mais rapidamente após o parto, devido à libertação da ocitocina.
- A amamentação também pode ajudar a perder peso.
Desvantagens
- A mãe que amamenta deve estar disponível para alimentar o seu bebé 6 a 8 vezes por dia (pelo menos). Embora a mãe possa optar por tirar o leite com a bomba e congelá-lo, de modo a permitir que outras pessoas possam dar o leite ao bebé, normalmente, a mãe precisa de continuar a amamentar pessoalmente a fim de manter a produção de leite.
- Como o leite materno é mais fácil de digerir, os bebés amamentados tendem a precisar de mais mamadas. Os bebés alimentados com leite de fórmula tendem a permanecer mais cheios por períodos mais longos e, portanto, podem passar mais tempo entre as mamadas.
- O biberão permite ver a quantidade de leite que o bebé mama, enquanto que uma mãe nunca sabe se o bebé está a mamar o suficiente (a nao ser pelo aumento do peso).
- Os alimentos que a mãe come e os medicamentos que toma podem entrar no sistema do bebéatravés do leite materno. Por isso, a mãe tem de evitar certos alimentos, bebidas e medicamentos que possa ter um efeito negativo no bebé.
- A amamentação pode levar a mamilos gretados quando existe uma pega incorreta.