Sono, Birras e Manhas
No passado dia 9 de junho, a Mãe Real esteve presente na conferência promovida pela Academia Pública “Sono, Birras e Manhas”.
Os convidados para esta conferência foram:
- Filipa Sommerfeldt Fernandes – Terapêuta do sono, autora do livro “10 dias para ensinar o seu filho a dormir” e “Comer sem birras” (de quem já falei uma vez aqui e que em breve irei falar sobre os livros dela);
- Hugo Rodrigues – Pediatria, Hospital Viana do Castelo, ULS do Alto Minho; autor dos livros “Pediatra para todos” e “Primeiros socorros bebés e crianças” e blog “Pediatria para todos”
Ao longo dos anos, a Academia Pública tem abordado vários temas relacionados com a saúde infantil em conferências semelhantes a esta. O objetivo é partilhar experiências dentro dos temas falados, não só experiências dos convidados, como também de todos os participantes.
Irei resumir os temas discutidos e poderão ainda ver um pequeno excerto da conferência no canal de Youtube Mãe Real TV.
Mas para já, alguma informação sobre os convidados.
Sobre os convidados
Filipa Sommerfeldt Fernandes é mãe, especialista em sono infantil, e autora do bestseller 10 Dias para Ensinar o Seu Filho a Dormir e de 10 Histórias para Adormecer sem Medos nem Birras.
O seu método para acalmar bebés e ensiná-los a dormir popularizou-se muito rapidamente entre as mães pela facilidade de implementação e sucesso nos resultados. Acredita que o sono é essencial não apenas para o desenvolvimento e aprendizagem dos mais pequenos, mas também para a harmonia familiar.
É formada em:
- Neurobiology of Sleep, Sleep Research Society
- Normal Human Sleep: Infancy to Adolescence, Sleep Research Society
- Nutrition in the Early Years, MNT Training
- Happiest Baby Educator, Dr. Harvey Karp
- OCN Maternity Practioner Nurse, MNT Training
- OCN Sleep Train, MNT Training
Podem segui-la no seu site Sleepy Time.
Hugo Rodrigues é pediatra na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE onde, para além da sua atividade como pediatra geral, tem ainda uma consulta especializada em medicina da adolescência.
É também professor na Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho e na Escola de Tecnologias da Saúde do Instituto Politécnico do Porto, e formador, do Grupo de Reanimação Pediátrica, entidade responsável pela formação a nível nacional na área da emergência pediátrica.
Integra a Direção da Sociedade Portuguesa de Medicina do Adolescente e colabora como revisor com a Acta Pediátrica Portuguesa, revista oficial da Sociedade Portuguesa de Pediatria.
É pai de duas crianças.
Tem um blog dedicado a todas as pessoas que cuidam de bebés, crianças e adolescentes. Chama-se Pediatria para todos e o grande objectivo é ajudar a descomplicar a maternidade, para se poder usufruir em pleno do melhor que pode acontecer na vida de qualquer pessoa: ter filhos!
É ainda autor de dois livros: Pediatria Para Todos (livro com conselhos gerais de Pediatria para toda a gente) e Primeiros Socorros – Bebés e Crianças (dedicado a uma área específica sobre a qual todas as pessoas devem ter algum conhecimento, para poder tomar as decisões certas nas alturas certas).
Parentalidade Ideal
A conferência começou com a discussão sobre parentalidade ideal.
De acordo com o Dr Hugo Rodrigues, pais perfeitos e filhos perfeitos é uma utopia. Não existem pai perfeitos nem filhos perfeitos. O que existe é uma vontade de melhorar sempre que nós erramos. Hoje em dia nota-se uma maior pressão nos pais para fazerem melhor, de forma a que não aconteça nada no futuro dos filhos.
A pressão é tão grande que as pessoas esquecem-se de viver o presente. Os pais não se preocupam como vai ser o dia de hoje, mas sim como é que podem melhorar o dia de amanhã.
O desenvolvimento das crianças é um processo e não um sumatório de momentos. E se em determinado momento, a fotografia que se tira não é a melhor, temos sempre o dia de amanhã para a corrigirmos.
Das melhores armas que temos como seres racionais é não cometer o mesmo erro. Nós vamos errar, mas o que devemos é tentar sempre não cometer o mesmo erro. E se por acaso o repetirmos de novo, há sempre uma terceira vez para não o repetirmos.
Enquanto pais, mães e cuidadores de crianças, nem sempre vamos tomar as decisões corretas, mas há sempre o dia de amanhã. E aquilo que fazemos hoje não é uma fatalidade no futuro.
Nós pais devemos preocupar-nos em fazer o melhor possível, hoje, com o olho no amanhã, e entender que se errarmos não é uma fatalidade, caso contrário não conseguiremos usufruir dos nossos filhos e eles de nós.
Relativamente às opiniões, quem é a mãe que nunca ouviu a sogra ou a mãe, ou uma amiga, ou uma amiga de uma amiga a opinar sobre como dar de mamar, como pôr o nosso filho a arrotar, como vesti-lo, porque está calor, porque está frio…. um interminável circo de opiniões e que nos faz duvidar da nossa capacidade de ser mãe.
Pois bem, as opiniões não as podemos proibir de as fazerem. temos antes de mais entender se as opiniões que nos dão são para o nosso bem e do nosso bebé, ou se são por “malícia”.
Por isso, devemos ouvir as opiniões e depois filtrá-las. Em último caso, a decisão é sempre nossa, como pais. Por isso, não devemos ter medo de tomar decisões, desde que o façamos de forma consciente e informada.
Sono
De acordo com a Academia Americana de Medicina do Sono, as crianças deveriam dormir o seguinte:
Recém-nascido – 4 meses
Sono total: 16-18 horas
Sono noturno: 8-9 horas
Sestas: 7-9 horas (3-5 sestas)
4 – 12 meses
Sono total: 12-16 horas
Sono noturno: 9-10 horas
Sestas: 4-5 horas (2-3 sestas)
1 – 2 anos
Sono total: 11-14 horas
Sono noturno: 11 horas
Sestas: 2-3 horas (2 sestas)
3 – 5 anos
Sono total: 10-13 horas
Sono noturno: [10-11] 10-13 horas
Sestas: 0-1 horas (por norma, a partir dos 3 anos as crianças já não fazem sestas, visto os jardins de infância / pré-escolar não terem capacidade para)
6 – 12 anos
Sono total: 9-12 horas
Sono noturno: 10-11 horas
Sestas: n/a
12 – 18 anos
Sono total: 8-10 horas
Sono noturno: 8-10 horas
Sestas: n/a
Mas sabemos que não é assim tão simples. Muitas vezes por culpa nossa, mães e pais, devido aos nossos comportamentos e rotinas erradas (ou falta delas).
Habituamos o nosso bebé a adormecer ao peito, no nosso colo; quando acorda de noite achamos que é por ter fome, e por isso damos logo o leite (seja peito ou biberão), e muitos outros comportamentos, que não estão errados, mas que criam uma rotina e habituação no bebé e leva os pais aos desgaste.
Eu sou defensora das rotinas. Acho que os bebés e as crianças precisam de rotinas. Aliás nós pais também precisamos de rotina. Cá em casa, entre as 20h30 e as 21h30, os pequenos estão a dormir. Aliás, o Dinis tem mesmo de ir para a cama, pois é o único sitio onde adormece, mesmo quando às vezes quero ver aquele programa interessante na tv…
Agora, as rotinas para adormecer devem ser agradáveis e calmantes caso contrário os bebés e as crianças vão criar resistência e não vão querer dormir.
Um exemplo de rotina é o banho ou melhor, o pós banho, em que passamos creme no corpo, massajamos, falamos menos, estamos a relaxar o bebé e a prepará-lo para dormir.
É importante criar momentos de voz – calma, baixa; e momentos de toque – massagem, miminho.
A melhor rotina é aquela que funciona para a família.
Não devemos adormecer com a televisão ou o tablet ou o telemóvel, nem nós pais, nem as crianças.
Todos os momentos de partilha genuína são importantes.
Contar uma história é um momento de partilha genuína e é também um momento de desenvolvimento comunicativo verbal e não-verbal para a nossa criança, é um momento de grande intimidade.
No entanto não nos devemos esquecer que os momentos de partilha devem ser dirigidos pela criança e não pelos pais. Isto é, se a criança quiser saltar uma página, então deixamo-la. Não vamos zangar-nos por isso. Isso acabaria com o momento de partilha genuíno e intimo.
Um aspeto importante que o Dr. Hugo alertou foi o de adormecer o bebé com leite. Quando o bebé tem dentes, nem que seja um dente, deverá lavar sempre os dentes, por isso, adormecer o bebé com leite é uma má opção, visto que a última vez que o bebé lava os dentes deverá ser antes de adormecer.
Outros aspetos importantes sobre o sono do bebé, nomeadamente o adormecer:
- Se a forma como o bebé adormece estiver a afetar o sono durante a noite, se o bebé acordar muitas vezes durante a noite, então é preciso ensiná-lo a adormecer autonomamente;
- Deixar o bebé chorar quando acorda, sem ele saber porquê, é mau exemplo;
- Devemos respeitar as necessidades básicas do bebé;
- É importante dar contacto físico ao bebé para o acalmar e dar segurança para que ele consiga adormecer sozinho.
No que diz respeito às sestas, estas são importantes e deveriam sem “vividas” pelas crianças até aos 5 anos, mas, infelizmente, muitas escolas não têm capacidade para o fazerem. Por isso, muitas crianças depois dos 3 anos deixam de fazer as sestas.
E porque é que as sestas são importantes?
- Porque o sono do dia ajuda a crianças a reorganizar as informações que recolhe durante o dia;
- O sono do dia funciona como regulador do sono da noite;
- As crianças que não fazem sestas durante o dia, muitas vezes têm dificuldade em adormecer à noite por estarem muito cansadas.
Em relação aos despertares noturnos e perturbações do sono, estas acontecem quando a criança tem dificuldade em adormecer, ou dormiu de mais durante o dia. também pode estar relacionado com problemas respiratórios (é verdade, o Martim quando está mais constipado dorme muito mal).
Por norma os terrores noturnos e sonambulismo passam com o tempo, não são permanentes e devem-se ao cansaço e fadiga das crianças.
Birras
A birras fazem parte do desenvolvimento da criança. É perfeitamente normal e expectável, e por norma acontece a partir dos 15 anos.
Para o Dr. Hugo, fazer birra revela inteligência e não é sinónimo de má educação (excepto quando as crianças são premiadas por fazerem birras).
A birra é um teatro para envergonhar os pais e as crianças quando fazem birras procuram espectadores. Por isso a melhor forma de lidar com as birras é ignorar e não ceder / premiar.
Ah, é verdade, até aos 3 anos, as birras são sempre a piorar!
Relativamente às birras à mesa, nós pais devemos respirar fundo e lidar com naturalidade. Difícil eu sei, mas não impossível.
A alimentação é o treino dos sabores, das texturas, das visualizações e da socialização. E o apetite varia de acordo com o estado de saúde e com o crescimento da criança. Os picos de crescimento levam a um maior apetite, por exemplo.
Manhas
Finalmente, o último tema falado é sobre as manhas, e que pelo o que eu já pude ler nas redes sociais, levanta muita controvérsia. A palavra manha neste caso não está relacionada com maldade ou malícia. Aliás todos nós nalgum momento da nossa vida somos manhosos, porque tentamos levar as pessoas a fazer algo por nós.
As crianças adequam os seus comportamentos às situações e às pessoas para conseguirem o que querem. De certeza que já viram o vosso filho a comportar-se de maneira diferente quando está com os avós, certo?
A manha é uma estratégia que as crianças arranjaram para obterem o que querem e só mostra inteligência!
Lembra-vos alguém?
Não percam o meu póximo post sobre a Oficina de Lanches Saudáveis, organizado também pela Academia Pública, e que foi dado pela nutricionista Dra. Patrícia Martins.