2013
Este foi um ano de tristezas e alegrias.
No início do ano, grávida pela primeira vez, fico a saber que o coração do bebé tinha parado às 9 semanas e 5 dias. O meu mundo desabou nesse dia. (Podem ler sobre isso aqui.)
Depois do aborto, de todo o sofrimento físico e psicológico, eis que recebo alta hospitalar e o OK para voltar a engravidar. Fisicamente estava tudo bem comigo. Psicologicamente nem por isso. E ainda hoje sofro com a nossa perda.
Não foi surpresa nossa quando engravidamos novamente. Se da primeira vez tinha sido suficiente um esquecimento num fim de semana, agora, com meses sem tomar a pílula, estava mais do que garantida a gravidez. Por isso, a nossa reacção quando vimos o teste de gravidez foi “Ok, estamos grávidos.” Sem pulos de alegria, nem desfalecimentos (o pai esteve quase para, na primeira gravidez).
Não entendam a nossa reacção como falta de interesse ou motivação. Muito pelo contrário. Nós queríamos muito engravidar. A ideia de formarmos uma família ficou ali, a pairar no ar, a seguir-nos para todo o lado, desde o aborto. Mas a verdade é que mesmo antes de fazermos o teste já sabíamos no nosso interior que estávamos grávidos.
A notícia
Acho que todas as mães já ouviram dizer que não se deve anunciar a gravidez antes de completar as 12 semanas. Isto porque o primeiro trimestre é sempre complicado, devido ao risco de perda gestacional ser maior neste período. Entre 10 a 20% das gravidezes evoluem para aborto. Por isso, é aconselhado às mães manterem segredo durante este trimestre.
Manter segredo serve também para proteger a mãe e o pai caso a gravidez não avance. Não há nada pior do que ter a família e amigos a lamentarem-se pela perda, a tentarem dar-nos força, “Vais ver que para a próxima corre bem”; “Força, não desanimes!”. A intenção é boa, mas estarem constantemente a recordarem-nos da nossa perda não ajuda. Muito pelo contrário. Mantém a ferida aberta durante muito mais tempo.
Eu não mantive segredo mas também não contei a toda a gente mal soube que estava grávida. Foi uma notícia comunicada, gradualmente, e a seu tempo. Comuniquei no emprego. Achei que era o mais correto a fazer, até porque ia começar a ir a consultas, e por muito que tentasse marcar as consultas para fora do horário de trabalho, há coisas que não controlamos. Também comuniquei ao padre da minha paróquia, pois na altura eu era catequista de crisma e não era casada…
A verdade é que se torna difícil manter em segredo a gravidez devido aos sintomas, como enjoos, tonturas e seios inchados. E no meu caso, eu já tinha barriga. Por isso não faz sentido manter segredo ou mentir às pessoas quando nos perguntam se estamos grávidas. Pelos menos é esta a minha opinião.
A gravidez
Os primeiros trimestres foram muito normais, penso eu. Não tive enjoos, nem tonturas. Correu tudo muito bem. Sentia-me com força e energia. Passava muito tempo em pé e andava muito. “Não andes nas escadas! Vai pelo elevador!”, diziam-me constantemente. “Não pegues em sacos! Não vás às compras sozinha!”. Bolas, mas eu não estava doente!?
Mas, mesmo me sentindo bem, existia sempre o receio de não estar tudo bem com o bebé. Recordo-me de estar sempre nervosa a cada ecografia. Não conseguia passar por outra perda.
A primeira ecografia que fizemos foi às 7 semanas. Estava tudo bem. O coração já batia com uma frequência de 136ppm. A ecografia das 12 semanas, a terrível ecografia das 12 semanas, mostrou um bebé saudável, com um batimento cardíaco forte. As ecografias seguintes puseram fim ao nosso receio de que algo de terrível pudesse acontecer na gravidez. Finalmente, no final da gravidez, podíamos respirar.
Para além do receio de receber uma má notícia na ecografia, outro receio que assombra as grávidas é engordar. Nesta gravidez engordei 19 quilos! Mas não pensem que era por comer muito. Eu nem tinha muito apetite. Aliás, eu emagreci 1 quilo no primeiro trimestre. Não conseguia comer uma refeição completa (sopa, comida, fruta). Rapidamente ficava saciada. Claro que isso mudou no 3º trimestre, quando uma hora após a refeição já estava cheia de fome.
Não fui de ter desejos. Aliás, a única vez que me apeteceu realmente algo (pão com queijo) foi num sábado à noite, já tarde, e não tínhamos nem pão nem queijo, e não, o pai não saiu de casa para arranjar pão com queijo para matar o desejo desta grávida! Mas, no dia seguinte, em casa dos sogros, eu matei o desejo e saciei-me com o pão com queijo 🙂
Sinceramente, adorei a gravidez do Martim. Mesmo quando já não aguentava o cansaço no último mês. O pior foi o que veio a seguir…
O Parto
No dia 03 de julho, quinta feira, entrei em trabalho de parto.
O pai é empreendedor e nesta altura tivemos a ideia de um negócio e estávamos a testar o serviço, num passeio até Vila Nova de Gaia.
Mamãs, não lancem negócios na véspera do nascimento do vosso filho, nem nos meses seguintes, ok? Não é a melhor altura, acreditem!
Estávamos a passar pela ribeira de Gaia, quando me deu vontade de fazer um xixizito. O pai parou o carro, e eu fui até ao café.Porque parecia mal entrar apenas para ir à casa de banho, pedi uma garrafa de água. Fui à casa de banho e o rolhão saiu. Chego ao carro e digo ao pai – Entrei em trabalho de parto! – O pai pergunta se é para ir para o hospital. Não, calma. Era muito cedo. Até porque ainda não tinham começado as contracções nem tinham rebentado as águas.
Terminamos o que tínhamos de fazer e fomos para casa.
À noite começaram as contracções. Eu sofria. O pai cronometrava a duração das contracções. Não queria ir para o hospital com muita antecedência. Queria fazer tudo como tinha aprendido no curso de preparação para o parto. Mas as recordações do aborto assaltaram-me a mente. Comecei a sentir as mesmas dores que tinha sentido no ano anterior. Não aguentava mais as dores. As contracções pareciam mais regulares. Fomos para o hospital.
Dei entrada às 00h30 do dia 04 de julho. Tinha apenas 1 dedo de dilatação. Delirei com as dores a noite toda. Não conseguia dormir. Estava exausta. Às 8h30 já estava na sala de partos, com a epidural. A dilatação avançava a passo de caracol. A barriga estava muito em cima. Só ouvia bebés a nascerem. Isso fazia aumentar o meu nervosismo. Eu chorava. Queria ir para casa. Queria que as dores passassem. Era daqueles momentos que eu precisava da minha mãe para me dar força e dizer que aquilo ia passar.
O pai nada podia fazer. Sei que foi uma experiência terrível para ele.
Mandaram o pai sair e entraram as parteiras. Tive de me pôr de cócoras para ver se o Martim descia. Agarrei-me à enfermeira estagiária e cravei-lhe as unhas. Não faz mal dizia ela!
Finalmente, o Martim estava em posição. O pai entrou. Tive de fazer força, mas eu já não tinha força. Gritei de desespero. A médica disse que tinha de fazer um último esforço ou o bebé entrava em sofrimento. Fiz um último esforço, e com a ajuda da ventosa, o Martim nasceu. Eram 16h30.
Ouço-o a chorar. Choro de alegria quando o colocam no meu peito. Era o meu filho, sangue do meu sangue, carne da minha carne e nunca ninguém poderá tirá-lo de mim.
[tie_index]O melhor da vida [/tie_index]
O melhor da vida
Os filhos são sem dúvida o melhor da vida. Rapidamente nos esquecemos dos enjoos, dos inchaços e dos quilinhos a mais ganhos durante a gravidez. Esquecemo-nos das dores de parto, de todas as 16h de trabalho de parto. Tanto nos esquecemos que estamos preparadas para engravidar novamente passados 3 anos 🙂
Nós mulheres somos abençoadas por podermos dar vida.