Estamos a viver o segundo confinamento e os nossos filhos estão em casa. Estão em casa porque foi necessário encerrar as escolas e ao que parece assim vamos continuar durante mais umas semanas.
Alguns pais tomaram a decisão de manterem os seus filhos em casa este ano letivo. Conheço crianças finalistas do pré-escolar que estão em casa e outras crianças que deveriam ter começado uma nova fase das suas vidas (entrada no primeiro ciclo) e que também estão em casa.
Não concordo com o fecho das escolas. Entendo a necessidade de protegermos os nossos filhos e reduzir ao máximo a circulação dos pais nas cidades. Mas acredito que este distanciamento social trará muitas consequências negativas, principalmente para crianças que estão desde Março de 2020 em casa.
REPRIMIR EMOÇÕES
Pior do que ter o nosso filhos em casa, é ter todos os filhos em casa.
Ter de gerir a atenção que damos a ambos (no meu caso são só dois, nem consigo imaginar toda a logística de quem tem 3 o mais); ter de apoiar nos estudos e mais ainda, criar um ambiente propício ao estudo (não tenho isso nem de longe!)
Tenho verificado ultimamente uma mudança de atitude (talvez de personalidade) nos meus filhos. O Martim sempre foi muito brincalhão e continua a sê-lo, mas agora com o irmão que ainda não entende as brincadeiras do Martim. Como o Martim gosta de dizer, eu estou a “trolar” (raios partam os youtubers). O Martim está sempre a implicar com o Dinis, mas do jeito dele, a brincar.
O Dinis tem-se imposto mais. Não tolera as brincadeiras do irmão, está sempre a bater-lhe, quer tudo do jeito dele.
Sei que isto é próprio da idade, mas nunca tínhamos passado por tal com o Martim, porque ele foi o primeiro e não tinha nenhuma criança com quem brincar / implicar.
Com os dois filhos em casa, uma bomba está prestes a explodir.
E o que eu quero dizer com isso?
Quero dizer que as guerrinhas deles, as implicações e birras irão fazer ou que eu perca a minha sanidade mental ou então eles.
Quando nos chateamos, tentamos ignorar o que se passou, vamos acumulando até não podermos mais e depois já sabem… 💥💣
E pior do que explodirmos, é ter alguém a dizer: Oh, não te chateies por causa disso.. Oh não foi nada de mais… Ignora-a / o.
Mas porque é que não nos podemos zangar? Mas porque é que não devemos exprimir os nossos sentimentos? Porque é que temos de reprimir as nossas emoções?
Reprimir, reprimir até 💥💣
E o problema é que nós ensinamos isso mesmo aos nossos filhos.
Aquilo que nos dizem, nós aplicamos aos nossos filhos.
Quem nunca disse ao seu filho depois de ele se magoar Já passou… Não é preciso chorar… Eu também me magoei e não me vez a chorar assim…
Como pais, não podemos isolar os nossos filhos de situações menos agradáveis na vida. Mas podemos ajudá-los a gerirem as emoções que daí advém.
PORQUE É IMPORTANTE GERIR AS EMOÇÕES?
Uma das certezas da paternidade é que os nossos filhos irão experimentar todos os tipos de emoções (às vezes tudo num dia!) E irão enfrentar diariamente coisas que não gostam (e isso aplica-se mesmo com eles em casa). Ajudar o nosso filho a crescer emocionalmente envolve ensiná-lo a reconhecer certas reações emocionais em si mesmo e a expressar esses sentimentos de maneira adequada.
Se ajudarmos o nosso filho a gerir as suas emoções, ele eventualmente irá relacionar-se melhor com outras crianças, e adultos também, irá saber gerir o seu comportamento e lidar com todo o tipo de situações. E também será um grade benefício em casa, na relação pais e filho ou irmão e irmão, porque será mais fácil par ele explicar os seus sentimentos por palavras em vez de gestos.
O QUE PODEMOS FAZER COMO PAIS?
1. Dá um nome às emoções – como triste, feliz, zangado, frustrado, ansioso.
Para o seu filho mais novo, esses nomes serão tão básicos quanto louco, triste e feliz. Identificar e nomear sentimentos é essencial para aprender como lidar com eles.
2. Descobre o gatilho
Ajuda o teu filho a recuar e identificar o que o levou a sentir-se assim.
3. Diz-lhe que está tudo bem em sentir “coisas”
Deixa o teu filho saber que todos sentem essas emoções às vezes e que existe uma maneira certa e uma maneira errada de expressá-las. Deixe-os saber que podem não ser capazes de evitar sentir como se sentem, mas podem e devem controlar a maneira como expressam esse sentimento. O teu filho deve aprender a ser responsável pelas palavras e reações, independentemente da situação.
4. Ensina-lhe técnicas para se acalmar (já te mostro algumas mais à frente)
Pode ser útil para teu filho aprender a afastar-se de uma situação ou parar um pouco para pensar antes de responder.
5. Não tentes resolver tudo
A ideia é ajudar os teus filhos a aprenderem a resolver o problema, não fazê-lo simplesmente desaparecer. Ser pai significa ajudar os nossos filhos a encontrarem maturidade emocional.
6. Dá apoio emocional
Muitas vezes, tudo o que os nossos filhos precisam é de um bom abraço e do reconhecimento de que sabemos como eles se sentem (isto resulta bem com os meus filhos).
O EXEMPLO DA FAMÍLIA ALVES, DE BRAGA
Então como podemos evitar que uma bomba exploda cada vez que os nossos filhos se chateiem, seja connosco, com um jogo, com o irmão?
Temos de lhes ensinar estratégias de relaxamento e pedir-lhes para que eles escolham a preferida, ou seja, a que melhor funciona com eles.
As crianças são todas diferentes e por isso têm reações diferentes e agem de forma diferente.
Por exemplo, o João quando se chateia com a irmã, a reação imediata dele é bater-lhe, o que está errado como é óbvio. Quando se acalmou, a mãe falou com ele sobre raiva e como não havia problema em sentir raiva, mas que ele precisava de arranjar outra maneira de se libertar da raiva (em vez de bater a irmã, ou noutra pessoa).
O João podia libertar a raiva ou gritando numa almofada ou dando murros na almofada. O João preferiu gritar na almofada. Agora, quando o João se chateia, ele sai da sala e pouco depois a mãe ouve um grito abafado vindo do quarto. Funciona para ele.
Já a Ana, a irmão do João, quando se chateia, ela não gosta de falar com ninguém. Prefere fechar-se no quarto e esperar se acalmar.
Diz a mãe que se não deram esse tempo e espaço à Ana, que ela se desmorona e acaba por agredir verbalmente as pessoas à sua volta, acabando sempre por gritar, revirar olhos e bater com as portas.
A minha filha não quer falar com ninguém. Ela vai para o quarto e fecha a porta até conseguir controlar-se melhor.
Todos nós nos aborrecemos de alguma forma, sentimos raiva e ficamos chateados.
E nesta altura em que estamos todos fechados em casa, é perfeitamente normal que as nossas emoções estejam mais à flor da pele. Mas reprimi-las não ajudará ninguém.
Por isso, para além do que já foi dito, devemos também arranjar técnicas que ajudem os nossos filhos a lidar com as suas emoções e não a reprimi-las.
OUTRAS TÉCNICAS
- Virar costas e ir embora (às vezes é a melhor solução do que continuar com a discussão)
- Chorar (o choro é terapêutico)
- Gritar ou chorar numa almofada
- Ouvir música alta e cantar ao mesmo tempo
- Enroscar-se com o gato ou cão (o amor de uma animal de estimação pelo seu dono resolve tudo
- …
Para mais técnicas, clica aqui e faz download da lista “Ideias para te acalmares”
Como é que vocês acalmam os vossos filhos? Quais as técnicas que usam para eles lidarem com as suas emoções?