Às 6 semanas descobri que estava grávida.
Às 7 semanas o coração começou a bater.
Às 9 semanas ouvi o coração pela primeira vez.
Às 9 semanas e 5 dias o coração parou.
Estou grávida!
Em finais de 2012 descobri que estava grávida. Um esquecimento na toma da pílula, e surpresa, vamos ser pais!
Na altura ainda vivíamos cada um em sua casa e nem tínhamos sequer pensado no que fazer daí para a frente.
Foi um misto de excitação e preocupação!
No dia da ecografia das 12 semanas, primeira vez que iríamos ver o bebé (feto, eu sei), o pai estava em formação, mas eu disse-lhe que queria que ele estivesse comigo na eventualidade de ser necessário tomar alguma decisão.
Seria o meu sexto sentido a alertar-me?!
Não sei descrever o que senti naquele momento. Não estava à espera que a médica dissesse que o coração tinha parado de bater. O meu receio tinha sido sempre do bebé ter alguma má formação genética. Nunca pensei que pudesse ter morrido.
Mulheres entre os 35 e os 45 anos têm uma probabilidade de perda gestacional entre 20 e 35%.
Ir para uma ecografia na esperança de ver o bebé e quem sabe descobrir já o sexo, e em vez disso, sair de lá com o mundo desabado e com uma decisão para tomar, ser internada e abortar ou esperar que o meu corpo fizesse o trabalho naturalmente.
Era terça feira.
A reação
Lembro-me de sair a chorar do hospital e sentir o olhar de outras mães que aguardavam a sua vez de conhecerem os seus bebés.
Lembro-me de estacionarmos perto de uma escola, porque não conseguíamos prosseguir a viagem.
Lembro-me do pai ter ligado para o meu emprego para informar do que tinha acontecido e para não contarem comigo pelo menos nesse dia e no próximo.
Lembro-me de estar sentada no sofá, em frente à televisão, com ela acesa, mas não me lembro do que estava a dar. Queria a televisão acesa para não pensar no que tinha acontecido e no que ainda ia acontecer.
Comecei a receber chamadas.
A minha médica ligou-me. Eu quis perceber o que é que eu tinha feito de errado para que isto acontecesse a mim. Porquê a mim?! Tinha estado doente, com febre. Teria sido isso? Deveria ter ido ao hospital mal a febre começou? O que foi que eu tinha feito de errado? Ela disse que era normal algumas gravidezes não passarem do primeiro trimestre.
Estudos revelam que entre 10 a 25% de todas as gestações clinicamente reconhecidas terminam em aborto espontâneo.
O meu irmão ligou-me. Tentou perceber o que havia acontecido. Fez perguntas e mais perguntas. Só me lembro de dizer “Não sei”.
Recebi chamadas de amigos e familiares. Todos queriam saber o que se tinha passado. Diziam que para a próxima ia correr melhor, ou tenta outra vez.
O que ninguém percebia era que eu estava a sofrer. Estava a sofrer no presente, aqui e agora. Estava a sofrer a perda do meu bebé e ele não podia ser substituído.
E ainda hoje sofro.
Mulheres com menos de 35 anos têm uma probabilidade de perda gestacional de 15%.
Dilatação e Curetagem
No sábado fui para o hospital. Sentia-me resignada. O meu corpo estava dormente. Acho que estava cansada de chorar.
Iniciei o procedimento. Um comprimido vaginal. Seria necessário mais outro.
Passava da meia noite e as dores eram horríveis. Eu não sabia se aquilo era normal. Chamaram a médica. Tinha começado.
Não consigo descrever por palavras o que aconteceu. Pensava que ia morrer. Eu queria morrer! Ninguém devia passar por tanto sofrimento!
De manhã fui para o bloco operatório, para tratar do sangramento excessivo após o aborto, e limpar os restos de placenta que ainda permaneciam no útero. Chama-se a isto dilatação e curetagem.
Não tinha avisado ninguém. E se algo me acontecesse? Eu não me tinha despedido de ninguém.
Estão a pensar – Que dramática?! – certo? Uma pessoa nunca sabe como vai reagir perante uma determinada situação. Esta foi a minha reação.
As análises feitas à matéria que retiraram não indicaram nada que tivesse levado à perda do bebé.
Penso que foi a forma da natureza me dizer que algo estava errado com a minha gravidez e que esta não podia prosseguir.
Os próximos meses foram passados em consultas e análises. Perdi muito sangue e fiquei anímica.
Passou o verão e a médica disse-me que estava recuperada e que podia engravidar novamente.
E não é que engravidei mesmo?
Algumas causas que levam ao aborto / perda gestacional
- Defeitos cromossómicos
- Defeitos genéticos
- Infeções
- Níveis hormonais
- Malformações do útero
- Álcool, drogas e tabaco
Mulheres com idade superior a 45 anos têm uma probabilidade de perda gestacional de 50%.
Alguns sinais de alarme
- Dor nas costas (pior do que as cólicas menstruais normais)
- Perda de peso
- Muco branco-rosa
- Contrações verdadeiras (muito dolorosas acontecendo a cada 5-20 minutos)
- Sangramento castanho ou vermelho vivo com ou sem cãibras (20 a 30% de todas as gestações podem apresentar algum sangramento no início da gravidez, com cerca de 50% daquelas resultando em gestações normais)
- Diminuição súbita dos sinais de gravidez
Fonte: American Pregnancy Association
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